segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Kime ( força veloz, decisiva): 2ª parte.



                   Em cada passo, em cada movimento dos braços, os feixes musculares modificam a sua situação de tensão, encurtando. É o encurtamento (contração) dos músculos que permite o movimento. Se os membros se deparam com um obstáculo que obstrua o movimento, apesar da musculatura estar toda tensa, os feixes musculares não se encurtam. Este tipo de trabalho dos músculos, em que não há um encurtamento dos mesmos é denominado em linguagem médica de “isométrico”.
                   Na década de 20, dois cientistas descobriram que essa tensão isométrica podia fortalecer o músculo. Esses investigadores procederam da seguinte maneira: esticaram a perna de uma rã e imobilizaram-na, deixando a outra a mover-se livremente. O animal começou a saltitar sem parar, esperando recuperar assim a sua liberdade. Depois de algum tempo os investigadores observaram que a musculatura da perna imobilizada estava mais forte do que a da perna que efetuava os saltos continuamente. Não conseguiram encontrar uma explicação para essa espantosa. Só em 1953, depois da fisiologia dos músculos ter feito grandes progressos, graças aos trabalhos dos cientistas Otto Meyerhof e Archibald Vivian Hill, que ganharam o premio Nobel com as suas investigações, é que o fenômeno pode ser explicado. Nem todos os feixes musculares intervêm nos movimentos. Como a maior parte dos movimentos repete-se constantemente, inclusive no trabalho corporal, o corpo habitua-se a poupar uma parte dos feixes musculares. Só participam, portanto, no trabalho cerca de 60% dos feixes musculares. No esforço isométrico acontece de maneira diferente. Quando os músculos não podem encurtar devido a um obstáculo, todos os feixes musculares entram em tensão. Descobriu-se, também, que não são as contrações constantes dos músculos que reforçam a musculatura e que contribuem, portanto, para desenvolver novos feixes musculares, mas que só a tensão é responsável por esse efeito. Depois de 1953, vários anos se passaram até que se descobrissem novas particularidades no que se refere ao desenvolvimento dos músculos.
                   Os músculos se desenvolvem melhor se entrarem em tensão regularmente, mas por poucos segundos de cada vez, sendo que uma excitação de duração mais longa do que 06 segundos não contribui para o desenvolvimento muscular. Por volta de 1960 os fisiologistas e os médicos elaboraram os primeiros métodos de treino isométricos. Neste ponto tem-se um pormenor interessante: em livros antigos sobre o karate de Okinawa, exercícios muito antigos de treinamento de defesa provam que aquele que os inventou conhecia já, muito antes dos nossos cientistas modernos, os valores dos exercícios isométricos.
                   Os exercícios isométricos são muitos, todos nós podemos inventar alguns, pondo a imaginação a trabalhar. No entanto, o que nos interessa são os exercícios que tenham aplicação no karate. A duração de um golpe de karate quando do impacto dura apenas um brevíssimo momento, e nesse momento têm de estar tenso o maior número possível de feixes musculares. Temos, portanto de ter em conta o momento do impacto e de escolher para treinamento os exercícios isométricos que exercitem os músculos utilizados neste momento.
                   Os exercícios são vários, daremos um como exemplo: usando a respiração aprendida no desenvolvimento do TANDEN, é conveniente usar a posição utilizada no treinamento do Tanden, mas se a sua posição já é sólida, pode utilizar as posições características do karate, como kibadachi, zenkutsu, kokutsu, nekoashi, hanguetsu, etc. O treinamento de qualquer técnica de uke-waza, tsuki-waza, os keri-waza podem ser feitos com a oposição do corpo de um companheiro que fará uma força contrária a direção da técnica, ou ainda sozinho com a própria faixa, dobrando-a e colocando o pé no anel formado, puxando para cima e forçando para baixo. Nesse treinamento a dificuldade será o equilíbrio, por este motivo é conveniente se apoiar com a outra mão para ficar estável.
                   Como exemplo do treinamento para uma técnica de te-waza, escolhemos o movimento de tsuki-waza, mas pode ser feito também com uke-waza ou qualquer técnica de defesa. Formar a técnica do seiken-tsuki, com o braço livre agarrar e fazer uma contra pressão ao movimento técnico, contraindo ao máximo a totalidade de sua musculatura; inspirar e expirar lentamente contando até sete; relaxar e repetir o exercício seis vezes. Enfim, qualquer exercício feito com oposição desenvolve a força isométrica, mas se deve ter cuidado com o tempo de execução, pois a execução do exercício por mais de seis segundos não atingirá a musculatura interna e por um fato fisiológico vai descontrair por si só e então haverá movimento, mesmo que não se perceba. Outro ponto é que se deve tomar cuidado com a respiração correta.
                   Naturalmente, para praticar o desenvolvimento do kime ao máximo grau, é necessário um corpo suficientemente robusto e resistente, que esteja em condições de agüentar com continuidade um treinamento de karatê marcial, não que seja uma condição indispensável para começar. Isso é conseguido através de um longo aprendizado e esta resistência será alcançada com o treinamento continuo que nos possibilitará de utilizar o maior número de técnicas. O mesmo tem um sentido bem preciso e deve ser desenvolvido paralelamente com a capacidade técnica.
                   A força, no karate marcial, não é sempre proporcional ao tamanho do músculo. Isso inclui a resistência de diversas partes do corpo (músculos, ossos, articulações, sistema nervoso, e todos os órgãos internos do corpo humano). Trata-se então de condições indispensáveis para chegar à fase ascendente do kime.
                   Também é indispensável uma boa condição física para conservar uma condição de equilíbrio na absorver a diminuição da força que acontece no corpo depois de um grande esforço, que é um fato normal e deve ser entendido como natural para manter um equilíbrio psicofísico.
                   Então, espero que tenha ficado claro que, primeiro devemos aprender as técnicas formais (KIHON), o mais corretamente possível, o qual foi conseguido no decorrer da história do karate.
                   Podemos tomar em consideração uma evolução pessoal das técnicas somente depois de ter realmente alcançado a capacidade de realizar a força do kimé, através da correta execução das mesmas.  No mesmo tempo, devemos orientar o nosso psiquismo para ultrapassar o portal que nos separa da parte física com o KI-AI, (união da energia psicofísica).
                   Na base das minhas limitadas experiências pessoais, posso dizer que o KIME é uma condição psíquica instantânea em que não se encontra nenhuma consciência de si mesmo e nenhum pensamento, quer dizer, uma espécie de vazio ( Kara) psíquico que integra completamente o EU num movimento corpóreo escolhido.

KI-AI.
A palavra ki-ai é composta de dois termos o “KI”, no sentido do espírito ou atitude do espírito e da “AI” no sentido de união.            

Um comentário: